Sim, porque palavras ditas não são necessariamente palavras ouvidas. Grande parte do que se diz, na verdade, não é comunicação.
Comunicar não é apenas falar. Para que haja comunicação, é preciso que o outro oiça e decifre a mensagem. O impedimento mais óbvio para que isso não aconteça, é não falarem a mesma língua. No entanto, cada vez mais vejo pessoas a falarem sozinhas, mesmo usando o mesmo código linguístico.
Quando eu digo a “falar sozinho”, estou apenas a referir-me a alguém que está a falar sem ninguém estar a ouvir. Não tem que ser uma pessoa que fale quando está sozinha. É comum ver, por exemplo, um grupo em que uma pessoa está a falar e é visível que nenhum dos outros lhe está a dar qualquer atenção. Mas muito comum também, é haver um grupo em que estão todos a falar, por vezes até de uma forma bastante civilizada, mas em que cada um está a falar do seu próprio assunto. E ao longo de toda a conversa, mantêm-se “na mesa” vários assuntos diferentes, em simultâneo, e sem se ouvirem uns aos outros.
Pode acontecer alguém começar a falar da crise energética, por exemplo, e o outro começa a falar do novo treinador do seu clube. E ao longo da conversa, cada um fala acerca do seu próprio tema, ignorando completamente o outro tema que está a ser falado em simultâneo.
O fenómeno de não se ouvir o que o outro diz, pode acontecer mesmo com assuntos importantes, como em reuniões, ou conversas de trabalho. Muitas pessoas não estão treinadas a ouvir os outros ou não consideram isso muito importante. É fácil pensar que, da mesma maneira que lemos um artigo “na diagonal” também podemos ouvir uma conversa da mesma maneira.
Quantas vezes já lhe aconteceu ouvir algo ser explicado e a seguir ouvir um comentário de alguém que mostra que essa pessoa não percebeu nada do que foi dito? Isso pode ter a ver com a complexidade do tema, mas acho que será muito mais frequente ter a ver com um modelo de comunicação pouco eficaz.
A nível de comunicação eficaz, há um conceito que eu acho de importância fundamental. Chama-se atenção total. Ou seja, quando eu estou a falar com uma pessoa, a minha atenção deve estar completamente colocada nessa conversa. Pode parecer difícil ou utópico, mas não é assim tanto. Quando eu dou atenção total ao outro, há várias coisas que estão a acontecer: fico muito mais facilmente informada acerca do assunto, estou a dar ao outro um reforço positivo considerável, estou a trabalhar o relacionamento, seja este familiar, de amizade ou de trabalho, e, na verdade, estou até a poupar tempo. Quando eu dou atenção total, fico mais rapidamente por dentro do assunto e poderá ser mais rápido terminar a conversa.
Outro elemento importante na comunicação eficaz, é o feedback. Não só o feedback que eu posso dar ( e desse não iremos falar agora), mas o que posso recolher. Enquanto estou a falar, devo estar atento às reacções dos meus interlocutores. Assim, poderei facilmente aperceber-me se o meu discurso está a ser claro, se estão a perceber, se estarei a tornar-me demasiado demorada ou monótona. Pode-se pensar que nós devemos falar seguindo o nosso estilo pessoal e não falarmos para tentar agradar aos outros. Eu não acho que se trate de agradar.
Quando eu estou a comunicar com alguém, devo saber qual é o meu objectivo. E devo (eu, que estou a falar) adaptar o meu discurso, de forma a que o meu objectivo seja alcançado. Eu (e não o ouvinte) é que devo fazer com que a minha mensagem seja percebida, interessante, apelativa, etc. E através do feedback, eu posso aperceber-me de possíveis dificuldades na recepção da mensagem e fazer no meu discurso as alterações necessárias para que ela seja recebida.
O alvo principal de uma mensagem não é que ela seja transmitida, mas que seja recebida. Uma mensagem que é passada mas não chega ao seu alvo é inútil; é um desperdício de tempo e de energia.