A linguagem é uma características comum a todos os seres humanos, a todos os povos, e que afecta todas as áreas da nossa vida. Por ser tão natural, nem nos apercebemos de como dependemos dela. No entanto, a forma como lidamos com a linguagem, principalmente em relação às crianças, afecta a maneira como ela se vai desenvolver.
O desenvolvimento da linguagem começa ainda antes do bebé nascer. Quando nasce, ele já consegue reconhecer a voz da mãe e reage aos sons que mais ouviu durante a gravidez. Depois de nascer, todo o seu sistema linguístico se desenvolve a partir daquilo que ouve. Todos nós nos lembramos, certamente, dos “meninos selvagens”, crianças que foram abandonadas e conseguiram sobreviver no meio de florestas, junto com os animais. Quando eram encontrados, um dos aspectos que se podia observar era a ausência de linguagem. Aqueles que nunca tinham estado em contacto com nenhum ser humano, simplesmente grunhiam como os animais. Eles não tinham menos capacidade linguística do que nós. O que recebemos ao nascer, não é um sistema linguístico, mas a capacidade de desenvolver e utilizar o sistema linguístico em que nos encontramos.
Tudo isto para nos ajudar a perceber a importância que nós, como familiares ou educadores, temos no desenvolvimento da linguagem das nossas crianças.
Qual é o papel dos pais?
No início da vida de uma criança, os adultos que estão com ela, têm dois papéis fundamentais: estimular a compreensão da linguagem e estimular o seu uso. A compreensão da linguagem pode e deve ser muito desenvolvida antes que a criança tenha capacidade para dizer qualquer palavra.
Para desenvolver a sua compreensão, basta falar com ela, desde o seu primeiro dia de vida; aproveitar todas as situações em que está a cuidar dela para lhe ir “dando vocabulário”. Deve usar frases curtas e vocabulário simples mas correcto. Uma das piores coisas que podemos fazer neste aspecto é usar a linguagem do popó, piu-piu, ó-ó e tantas outras “palavras” que só servem para atrasar o desenvolvimento linguístico da criança. Uma criança precisa de ouvir as palavras muitas, muitas vezes antes de as conseguir usar. Por isso é fundamental dizer-lhe os nomes das coisas: das partes do corpo, peças de vestuário, alimentos, animais, brinquedos ou qualquer outra coisa que faça parte do seu pequeno mundo. À medida que os meses passam, podemos acompanhar o desenvolvimento do seu vocabulário, procurando perceber que palavras ela já reconhece. Por exemplo perguntar: “Onde está o pai?” Quando ela já percebe o que dizemos, olha para ele.
Quando a criança começa a andar, podemos pedir-lhe pequenos favores só com um item de informação. Ex: “Vai buscar a bola.” Quando isto já for fácil, podemos pedir coisas com dois itens de informação “Vai buscar o casaco azul.” Antes disto, obviamente, é preciso dar-lhe essas noções: cores, opostos (grande / pequeno; fofinho / arranha, ou pica; quente / frio), emoções (triste, contente, etc.). Para uma criança pequena tudo isto é bastante complexo e por vezes, quando lhe pedimos um favor, precisamos de esperar que ela “processe”; ela pode ficar uns momentos parada, a olhar para nós e de repente vira-nos as costas e vai fazer o que pedimos.
O uso da linguagem começa mais tarde do que a sua compreensão mas devemos estimular desde cedo algum tipo de diferenciação de sons. Ou seja, mesmo na fase em que para uma palavra ela só diz um som, tentar que ela vá desenvolvendo diferentes sons; que não use o mesmo som para tudo o que quer pedir. Deve-se dar reforço positivo para a ajudar a perceber o que se pretende. Este reforço não é apenas quando ela diz a palavra correcta, mas quando se percebe que ela está a tentar ou a fazer alguma evolução. Por exemplo se, para bola, ela já diz “bo”, nós podemos dizer “Isso! bola”. Por um lado estamos a dizer que ela está no bom caminho e, por outro, estamos a dar-lhe mais uma vez a palavra correcta. É importante dizermos a palavra correcta e não igual ao que ela diz. O objectivo é ensiná-la a falar e não atrasar ou atrapalhar esse processo.
Algo que eu penso que é muito útil ensinar-lhe desde pequenina é a noção de dor e do local da dor. Pode aproveitar, por exemplo, quando ela cai e se magoa no joelho a ensiná-la a dizer “dói” e apontar para o joelho. Assim ela vai aprendendo a, quando algo está a doer, dizer “dói” e apontar para o sítio. Em situações em que eles estejam realmente aflitos, isto pode ajudar a perceber a parte do corpo onde está a aflição. No entanto, quando ela diz que dói, pode não se referir apenas a dor mas a algum tipo de sofrimento físico. Por exemplo uma criança pequena pode dizer “dói” e apontar para o pescoço e logo a seguir vomitar. O que ela estava a comunicar é que aquela zona estava em sofrimento.
As histórias são uma óptima oportunidade para estimular a sua criança a usar a linguagem. Enquanto lhe conta a história pode estimulá-la a contar ela própria alguns aspectos que, no início, podem ser só uma palavra.
Ao ajudar a criança a desenvolver a sua linguagem pode evitar alguns problemas nessa área. No entanto, mesmo com toda a dedicação por parte dos pais, podem surgir dificuldades. Algo que pode acontecer é a chamada “gaguez funcional” que surge por volta dos dois ou três anos. Não é motivo de preocupação e normalmente desaparece por si própria. Algo a que devemos estar muito atentos, é à voz das crianças. É cada vez mais frequente surgirem crianças mesmo muito pequenas com rouquidão e por vezes com formação de nódulos nas cordas vocais. Isto é um problema sério que deve ser tratado na terapia da fala o mais cedo possível.
A dificuldade mais comum nas crianças é a articulação incorrecta de alguns sons da fala. Muitas vezes elas corrigem isso por si próprias. No entanto, o ideal é que entrem no primeiro ano de escolaridade já com todos os sons correctos. Quando por volta dos quatro ou cinco anos a criança ainda não diz todos os sons, deve ser vista por um terapeuta da fala.
A linguagem, no ser humano, é algo muito importante. E quando nos empenhamos em conscientemente ajudar os mais pequenos a desenvolver a sua, a vida deles fica certamente mais fácil.